quarta-feira, 23 de julho de 2014

Sexta carta a Matias: Van Gogh, Rubem Alves, Ariano Suassuna e o protestantismo

Acabo de receber tua carta na qual te referes a fé de Rubem Alves...

De fato este grande homem foi, como o Ariano Suassuna, educado e formado sob a influência da fé protestante, calvinista alias.

Ariano todavia, ainda nos bons tempos anteriores ao concílio do Vaticano II, abjurou a fé protestante e tornou-se papista.

Como já haviam feito entre nós o Dr Eurípedes Cardoso de Menezes e Crimilde Leite de Aguiar.

Alves no entanto aceitou o desafio de ser pastor. E como Van Gogh esperava por meio do pastorado reduzir as dores do mundo, dar combate as injustiças, promover a dignidade da pessoa humana, erradicar os preconceitos, denunciar os farisaísmos, etc

'Não queria caminhar com os eleitos antes da hora.'  declarou Alves certa vez, mas com os oprimidos, os excluídos, os marginalizados...

Nada mais Cristão, nada mais natural, nada mais nobre, divino e excelente caro Matias.

Van Gogh desejando confortar os pobres mineiros, levando-lhes o pão material e o pão espiritual... e nosso Rubem desejando confortar e redimir nossos trabalhadores, campesinos, estudantes...

Acontece que o protestantismo ou melhor o clero protestante viu mal nisto...

COMO É QUE É PROFESSOR???!!!???

O clero protestante achou mal que Van Gogh e Rubem Alves pugnassem pela promoção humana e denunciassem as injustiças visando a construção de um mundo melhor, mais justo e fraterno???

Sim caro Matias, o protestantismo viu mal e muito mal que um e outro buscassem - além da redenção espiritual no além túmulo - também uma redenção mais palpável ou material neste mundo! Pois como para parte dos Ortodoxos e papistas mal situados, para a quase totalidade dos protestantes - que constituem a ponta de lança do PLATONISMO 'CRISTÃO' - a ideia de uma redenção completa, que principie por este mundo ou seja pela eliminação das estruturas sociais injustas, soa a materialismo...

Segundo creem tais pessoas a redenção comunicada por Cristo jamais ultrapassa os límites do espírito... e sendo assim jamais atinge os domínios da materialidade ou do corpo físico. COISA ESTRANHA É QUE ELAS JAMAIS SE DÃO CONTA DE QUE PARA IMPLEMENTAR ESTE TIPO DE REDENÇÃO PURAMENTE ESPIRITUAL O ESPÍRITO PURO ASSUMIU A FORMA DE HOMEM MATERIAL...
Daí o desconforto sentido pelos protestantes ou pastores de boa vontade como Van Gogh e Alves, descambando o primeiro no ateísmo.

Quanto a Alves veio a adotar um tipo de Cristianismo não institucional, i é, nem protestante, nem episcopal, nem espírita... e até certo ponto sintonizado com diversas matrizes religiosas.

Importa saber que em qualquer um dos casos - do pintor holandês, de Alves ou de Suassuna - estamos sempre diante do mesmo drama: o protestantismo uma vez raciocinado sucumbe face aos imperativos do ateísmo, da incredulidade ou do episcopalismo... só se conserva protestante aquele que ousa restringir o dom de Deus ou seja o uso da razão e que se abstém de refletir a respeito do problema religioso e dos fundamentos espirituais canonizados pelos reformadores.

Triste o estado de uma forma religiosa que para prosperar exorta seus adeptos a absterem-se de pensar qualificando toda e qualquer espécie de dúvida ou de hesitação como demoníaca. Mesmo entre as massas medianamente instruídas apenas o pavor supersticioso inspirado pela crença no diabo e no inferno é capaz de conte-las nos estreitos limites do protestantismo e de impedir que passem ao domínio da incredulidade.

Grosso modo o protestante inculto mantem-se filiado a sua seita não pela esperança do paraíso e menos ainda pela posse da verdade - coisa de que geralmente não cuidam - mas pela esperança fetichista de obter coisas materiais como carro, casa, saúde, etc É para esta vida, em termos puramente imediatistas que professam o neo cristianismo... já aqueles que não são tão ingênuos a ponto de esperar um prodígio a cada instante, e que se dão ao trabalho de observar as incongruências doutrinárias são conservados pelo medo de deus ou do rabudo...

Aceitam tudo quanto lhes é ensinado a crer não porque seja razoável ou digno mas por temerem que deus exerça vingança sobre eles torturando-os com requintes de crueldade por toda eternidade. Trata-se pois duma fé atemorizada e não duma fé raciocinada...

Aqui a voz da consciência é abafada tendo em vista uma ideia inexata a respeito de deus.

Como aquele que estudou atentamente o Evangelho i é a palavra de Cristo, levando em consideração o original grego, libertou-se desta ideia inexata - a respeito de castigos ou penas eternas - torna-se livre do terror, e livre para julgar qualquer doutrina tendo em vista o elemento lógico i é a coerência. Neste momento falta forças ao credo protestante e ele acaba sempre lançado as urtigas...

Mesmo em termos de internet, Orkut ou Facebook é assim...

PROTESTANTISMO REFLETIDO E RACIONALMENTE CONSIDERADO, PROTESTANTISMO MORTO!!!

Já Lutero tendo pressentido este terrível dilema esforçou-se por convencer seus adeptos a respeito da indignidade da razão, classificando-a como uma prostituta ensandecida...

Então caro Matias já sabes o que há ou houve de comum entre Van Gogh, Rubem Alves e Ariano Suassuna...



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